Quando era pequena, eu necessitava da aprovação do mundo, precisava
saber que não era invisível. Costumava fazer diversos planos de fugir e ficar
escondida para ver a reação dos que ficavam, passava o dia sem comer, pegava a
bicicleta e sumia livre pelas ruas do meu antigo bairro. Era de certa forma feliz nas minhas tentativas frustradas de me sentir importante, mas pagava o
preço, sendo alcunhada de estranha ou isolada no meu próprio mundinho
fantasioso. Geralmente, sentia a dor do mundo, por simples capricho de pessoa
que precisa de algum sentido pra se dar conta do pulsar de suas próprias veias,
fingia gostar de sempre estar só. Essa era eu: um pequeno punhado de cabelos
negros e lisos mesclados em um olhar curioso e sorriso torto de uma criança
insegura. São nesses padrões que me recordo de tê-la em minha vida.
Não lembro ao certo as
circunstâncias de nosso encontro, mas definitivamente lembro-me de você, aquela
pessoa improvável que me notou. Uma daquelas figuras que se transformam em mais
do que família. Jamais esquecerei a sua angústia pelas minhas escolhas erradas,
a sua sensibilidade. Recordo de, secretamente, esperar para cantar os parabéns
só quando você chegasse, sabia que receberia um sorriso despretensioso, me
dando o aval necessário para ser eu mesma, sem me sentir julgada. Achara meu alento.
Dizia que a havia deixado entrar na minha vida, tola, fora escolhida, uma
verdade como essa só nos salta aos olhos se pararmos para encará-la e como
estamos sempre com a mira para nossas desavenças e constantes reclamações a
perdemos.
Tantas lembranças, tantas
palavras, tantas emoções, tanto carinho, tanta vida, mas isso tudo não era você?
Sim, era. Se for lembrar alguma coisa, seria da alegria que vinha junto com a
sua presença, você me dizia “Linda, tu tem uma aura especial”, só via erros
nessa frase, linda, especial? Porém sorria
em retribuição da tentativa, você notava, sorria e dizia “Quando você se der
conta disso, será imbatível”. Na última vez que a vi, suas últimas palavras
foram “Linda, tão linda”, vou atrás de merecê-las, prometo. Você me via por
trás dos meus erros, do meu sorriso constante, via a minha dor, ouvia o meu
silencio, me dava esperança, ainda dá. Você sonhava e previa um futuro
brilhante pra mim, dizia que minha casa seria o mundo e vou lembrar isso.
Eu sou uma pessoa afortunada,
tenho ainda juventude para me redescobrir, uma eternidade para complementá-la,
pois uma lição que vivencio agora é a da imortalidade da vida, não vejo
paradoxo nisso, a vida vai além do agora, fica na memória dos que permanecem.
Essa é a minha homenagem, a minha crença na bondade das pessoas, afinal a
vivenciei, em um codinome Rids. Dito isso, em paz consigo, finalmente, dizer o
meu até breve, porque jamais serei capaz de dizer adeus, não, jamais adeus.